Ex-presidente do Coritiba e um dos principais responsáveis pela venda da SAF, Glenn Stenger voltou a aparecer publicamente após renunciar ao cargo que detinha no Conselho Consultivo da associação, no último mês.
Stenger era o presidente do Coxa quando a venda da SAF foi negociada e confirmada, em maio de 2023. Depois disso, o ex-cartola virou alvo e foi um dos mais cobrados pela torcida pela negociação de 90% das ações do clube com a Treecorp Investimentos.
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Em entrevista ao podcast Podpovão, na última sexta-feira (9), Stenger deu mais detalhes sobre o processo de venda da SAF e explicou os motivos da associação ter escolhido a private equity paulista para assumir o Coxa.
Na tentativa de justificar a escolha pela Treecorp e o pouco interesse de outras empresas na SAF do clube, Stenger comparou o Coritiba a um Opala, carro que deixou de ser fabricado no país em no início dos anos 1990.
De 72 possíveis investidores, somente dois apresentaram propostas e, segundo ele, isso aconteceu justamente pelo fato do Coxa ser pouco atraente.
Glenn Stenger, em entrevista ao podcast Podpovão
“O Coritiba, em 1970 e 1980, poderia ser comparado a um Opalão, todo mundo queria ter. Mas passaram-se os anos e hoje você acha um ou outro Opalão conservado. O Coritiba, não quero dizer que perdeu a expressão que tinha, mas não tem mais a mesma pujança, deu uma retraída. Isto é fato. O último título de expressão foi em 1985”.
“Na gestão do Vilson, batemos na trave duas vezes, mas não conseguimos a Copa do Brasil. O resto foram [títulos do] Campeonato Paranaense. São 40 anos do último título de expressão. O valor de mercado do Coritiba não é tão bacana como os times de massa, como Flamengo ou Palmeiras, o Coritiba está na classificação dos clubes médios”, emendou.
O ex-presidente afirmou que o Coritiba sonhava com o investimento de um grupo como o City, que administra a SAF do Bahia, mas que não houve tempo hábil para negociar. No Brasil, a lei da SAF não permite que um investidor controle mais de um clube.
“Dos 72 investidores, dois apresentaram proposta. E por isso falei que talvez o Coritiba não tivesse valor de mercado e pujança necessária aos investidores naquele momento. Alguns investidores eram nosso sonho. Por exemplo, o grupo City, nós queríamos que o investimento deles no Brasil fosse no Coritiba, mas chegamos atrasados, o Bahia já estava algum tempo à frente”, afirmou.
Stenger dá detalhes sobre outras propostas de SAF no Coritiba
Durante o processo de venda da SAF, o Coritiba contratou a empresa de consultoria, XP Investimentos, para auxiliar no processo de encontrar possíveis investidores.
Segundo Stenger, por meio deste serviço, 72 empresas foram contatadas, 22 não responderam, 34 declinaram e 14 assinaram o Non-disclousure Agreement (termo para receber informações sobre o clube).
Dos 14 possíveis investidores, apenas a Treecorp e uma empresa dos Estados Unidos apresentaram proposta. O investidor americano, no entanto, teria pedido uma cláusula em que poderia fazer mudanças profundas no clube, e por isso, o Coxa não levou a negociação para frente.
“Quando a empresa americana faz a proposta, ela põe alguns itens que qualquer um que estivesse à frente do clube naquele momento e aceitasse, brincadeiras à parte, teria que morar no Afeganistão, escondido. As exigências desse investidor passavam por, de acordo com a vontade dele, poder mudar cores, cidade e nome. Ou seja, se ele quisesse levar o Coritiba daqui para São Paulo, poderia. Obviamente que nós declinamos essa proposta de imediato”, detalhou o ex-presidente.
Além do grupo estadunidense, um investidor austríaco que já fez parte do Bragantino, também se interessou pelo clube, mas nunca ofereceu proposta oficial. Ainda de acordo com Stenger, a proposta mais sólida foi a da Treecorp e, por isso, foi concretizada.
“Por fora da XP, houve um investidor austríaco. Nunca colocou uma proposta firme, sempre falou em investimentos e sempre investimentos exclusivamente no futebol. Nunca falou em estádio, em CT e pagamento de dívida. Claro que se evoluísse em algum momento isso se tornaria realidade, mas ele acabou recuando”, contou.
Glenn Stenger critica gestão de John Textor
Um das frases de Stenger que o torcedor coxa-branca recorda em momentos de cobrança é quando o então presidente afirmou que o Coritiba “não seria transformado um clube satélite”, mencionando times que fazem parte de grandes redes, os chamados Multi-club ownership (MCO), como Bahia e Botafogo, por exemplo.
“Se eu fosse um satélite, como o Bahia é, talvez eu me arrependesse [de falar esta frase], porque é um satélite do City. [Se fosse como] o Bragantino, nós estaríamos mortos. O Bragantino hoje tem a sétima maior dívida do país. Nós não conseguiríamos sair mais desse buraco novamente”
O ex-presidente coxa-branca criticou a gestão de John Textor, dono da Eagle Holdings, que administra a SAF do Botafogo e de outros clubes, como Lyon, da França, e o RWD Molenbeek, da Bélgica.
Na temporada 2024/2025, a Eagle teve um prejuízo de R$ 723 milhões. Por outro lado, dentro de campo, o Botafogo foi campeão brasileiro e da Libertadores em 2024.
“Eles investiram muito, não estão tendo ainda o resultado que deveriam ter e quem vai pagar por isso é a empresa, é a Red Bull. E aí tem o Botafogo, que também entrou nessa negociação. Você não acha que a inconstância do proprietário do Botafogo prejudica o próprio Botafogo?”, questionou.
