Não há maneira mais digna do que se chegar ao número 1 do mundo com um troféu de Grand Slam. E se ele vier em cima do seu maior rival do momento, a glória então é absoluta.
Carlos Alcaraz retoma seu reinado no ranking mundial exatos dois anos depois ao conquistar o segundo título no US Open e o sexto de nível Slam de sua carreira, igualando-se a Boris Becker, Stefan Edberg, John Newcombe e Don Budge. Ele no entanto foi mais longe. Aos 22 anos, já tem dois troféus em três pisos diferentes de Slam, o que é absolutamente fenomenal.

Sua temporada se mostra gigante e justifica com sobras a liderança. Dominou amplamente o saibro europeu, com dois Masters e Roland Garros, depois foi à grama onde venceu Queen’s e decidiu Wimbledon e, ao retornar ao piso duro, saiu-se campeão seguidamente em Cincinnati e US Open, campanhas que ratificam sua já reconhecida versatilidade.
E não fica aí. Talvez ainda mais relevante do que o próprio título em Nova York seja o fato de que Carlitos mostrou evolução clara em aspectos que eram necessários no seu já imenso arsenal. Passou a sacar com mais rapidez e precisão, ao mesmo tempo que transformou sua devolução numa arma poderosa. O forehand ao mesmo tempo voltou a ser aquele golpe fulminante e seu desempenho junto à rede está entre os melhores do circuito.
A vitória sobre Jannik Sinner neste domingo foi muito justa, pela diferença técnica, tática e emocional demonstrada. Foi uma curiosa inversão de papéis em relação à final de Wimbledon, onde o italiano mandou e desmandou em quadra. Desde o primeiro minuto, Alcaraz tentou tomar as rédeas da partida, adotando logo de cara um posicionamento ofensivo para devolver o saque, um elemento crucial no estilo de Sinner que outra vez se mostrou instável.
Louvável a atitude do italiano que tentou ser mais agressivo e buscar a rede, fazendo várias transições muito bem armadas. Sinner aliás mostrou essa alternativa tática em seus jogos neste US Open. Mas ele definitivamente não estava afiado. Os golpes de base o deixaram na mão em situações cruciais – seu melhor momento veio quando as paralelas passaram a ser mais efetivas – e o primeiro saque não apareceu para salvá-lo nos pontos delicados.
Alcaraz mostrou-se confiante e determinado do princípio ao fim, mesmo tendo perdido seu único set no torneio. Fez quase o dobro de winners (41 a 21) e ainda errou menos (28 a 24). Encerra as 65 semanas consecutivas de soberania do italiano, prometendo ele próprio permanecer no topo pelo menos até março. E ainda amplia o amargo retrospecto de 11 a 5 sobre seu mais poderoso oponente. Carlitos certamente vai para a festa em Ibiza. Ele merece.
Num espelho do circuito masculino atual, Alcaraz e Sinner aparecerão no novo ranking com mais de 10 mil pontos somados em 52 semanas e cada um deles terá mais do que a soma entre o terceiro e quarto colocados. A lacuna fica cada vez mais larga.
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